Nos últimos meses, a
discussão sobre a adoção ou revisão da jornada 6x1 ganhou força em empresas, sindicatos e
espaços de formulação de políticas trabalhistas. Mesmo não sendo novidade na
legislação, o modelo — que prevê seis dias de trabalho para um de descanso —
voltou ao centro do debate por causa das mudanças sociais, tecnológicas e
culturais que vêm redesenhando o mundo do trabalho. Em 2026, tudo indica que
essa discussão estará ainda mais quente. Para muitos setores, especialmente os
que operam em regime contínuo como varejo, logística e serviços essenciais, a
jornada 6x1 é vista como operacionalmente necessária. Porém, o cenário atual
levanta questões importantes: será que ela ainda dialoga com as exigências de
saúde, bem-estar e retenção de talentos que o mercado moderno demanda? Como
lembra o sociólogo Richard Sennett, “a qualidade do trabalho influencia
diretamente a qualidade da vida”. Colaboradores exaustos produzem menos,
erram mais e permanecem menos tempo nas organizações. De outro lado, a
produtividade contemporânea está cada vez menos associada ao número de horas
trabalhadas e cada vez mais relacionada à capacidade de gerar valor com foco,
autonomia e tecnologia. O economista Peter Drucker já ressaltava que “não se
gerencia pessoas, gerencia-se o tempo delas”. E a verdade é que o tempo,
hoje, se tornou um recurso competitivo: empresas que oferecem jornadas mais
equilibradas tendem a atrair e manter melhores profissionais. Um ponto central
nesse debate é o impacto da jornada 6x1 na saúde física e emocional. Pesquisas
recentes mostram aumento de burnout, estresse crônico e quedas no engajamento
em regimes de trabalho com menor flexibilidade. Em áreas como RH e gestão de
pessoas, cresce a percepção de que modelos rígidos podem entrar em choque com
as expectativas das novas gerações — profissionais que valorizam descanso,
propósito e qualidade de vida tanto quanto salário. Por outro lado, é preciso
reconhecer os desafios empresariais. Nem todos os setores conseguem operar com
escalas mais leves sem aumento de custo ou perda de eficiência. Por isso, 2026
deve ser marcado por maior procura por alternativas híbridas: modelos
compensatórios, escalas 5x2 alternadas, semanas estendidas com descanso
ampliado e uso de automação para redistribuição de atividades. O que se espera
é que a discussão deixe de ser dicotômica — “é bom ou ruim” — e passe a ser
estratégica: “qual modelo garante sustentabilidade, produtividade e saúde ao mesmo
tempo? ”. Cada organização precisará analisar sua realidade, seu segmento e seu
capital humano para encontrar o ponto de equilíbrio. Na próxima semana,
vamos abordar outro tema que promete agitar o cenário profissional em 2026 — E convenhamos: equilíbrio é tão importante
que até o descanso precisa trabalhar — só não em regime 6x1.”.
Combinado?
Drucker, Peter. The Essential Drucker. New York: HarperBusiness,
2001.
Sinek, Simon. Leaders Eat Last: Why Some Teams Pull
Together and Others Don’t. New York: Portfolio/Penguin, 2014.
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